REDCPS - Revista Enfermagem Digital Cuidado e Promoção da Saúde

Fluxo contínuo: 2021, Número: 6 - 34 Artigos

Voltar ao Sumário

DOI: http://www.dx.doi.org/10.5935/2446-5682.20210058

REFLEXÃO

Contribuições da scoping review na produção da área da saúde: reflexões e perspectivas

Contributions of scoping review in the production of the health area: reflections and perspectives

Pétala Tuani Candido de Oliveira Salvador; Kisna Yasmin Andrade Alves; Theo Duarte da Costa; Rayssa Horacio Lopes; Lannuzya Veríssimo e Oliveira; Cláudia Cristiane Filgueira Martins Rodrigues

Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Natal, Rio Grande do Norte, Brasil. Grupo de Pesquisa em Qualidade do Cuidado e do Ensino de Saúde, Escola de Saúde

Endereço para correspondência

Pétala Tuani Candido de Oliveira Salvador
E-mail: petalatuani@hotmail.com

Recebido em 22/03/2021
Aceito em 01/07/2021
Publicado em 24/09/2021

Resumo

OBJETIVO: refletir sobre as contribuições da scoping review na produção na área da saúde.
MÉTODO: trata-se de um estudo reflexivo guiado pela questão norteadora “Qual a contribuição da scoping review na produção da área da saúde?”.
RESULTADOS: as reflexões são dispostas em três pilares temáticos: 1) aspectos conceituais e históricos da scoping review; 2) contribuições da scoping review na produção na área da saúde; e 3) avanços e perspectivas futuras para a scoping review.
CONSIDERAÇÕES FINAIS: a scoping review é um tipo de método que atende às demandas de sintetizar evidências de questões de pesquisas amplas, de modo sistemático, com transparência e confiabilidade dos seus dados, o que possibilita a replicação do método por outros autores. A sua utilização na área da saúde segue uma perspectiva crescente e acredita-se que novas nuances e atualizações surgirão para ampliar a robustez científica desse método.

Palavras-chave: Pesquisa; Metodologia; Revisão; Ciências da Saúde.

 

INTRODUÇÃO

A produção do conhecimento de forma sistematizada vem sendo acompanhada de uma revolução no que tange à oferta de informação. A evolução tecnológica trouxe uma diversidade de meios que permite obter dados sobre determinado tema que gere uma necessidade de aprofundamento, inclusive no campo da produção científica.

É evidente que, neste ponto, surge um encorajamento para novas formas de produção de conhecimento, o que permite atualização de pesquisas, comparações de estudos e mapeamento do conhecimento existente. Contudo, a preocupação com o rigor cientifico e metodológico desse processo levanta a importância de considerar práticas que se baseiem em evidências cientificas e métodos adequados, ao se conduzir um estudo que tenha por objetivo utilizar essas fontes de informação(1-2).

Nesse contexto, as revisões de literatura classificam-se como um tipo de pesquisa que utiliza métodos capazes de sintetizar o conhecimento disponível em diversas bases de dados sobre um determinado tema, produzido por outros estudos, com objetivos específicos, consolidando essas informações em um único espaço e possibilitando análises diversas(1,3).

Ao desenvolver uma revisão, o pesquisador tem como possibilidades detectar lacunas existentes naquilo que já foi discutido, observar o estado da arte sobre determinado assunto, além de oferecer suporte para outros estudos e para a tomada de decisão baseada em evidências(3-4).

Todavia, é importante destacar que, para tais fins, o rigor metodológico precisa estar presente e possibilitar a coleta de informações pertinentes ao que se deseja alcançar com aquele tipo de pesquisa. No caso das revisões de literatura, estas podem ser elaboradas de diversas formas, de acordo com o objetivo que se deseja alcançar.

As revisões narrativas, por exemplo, têm em suas características o uso de diversas fontes, contudo, com uma abordagem metodológica não sistematizada de busca de estudos, geralmente utilizada para atualização teórica, e baseia-se em análise qualitativa dos dados, que inclui a visão crítica do pesquisador(1,4).

As revisões integrativas entregam um método com maior rigor, possuem como objetivo a síntese de informações para aprofundar a compreensão sobre um fenômeno específico, sistematizando a busca e apresentando os resultados geralmente de forma quantitativa(3-4).

A revisão sistemática é considerada o tipo de revisão mais conhecido, se caracteriza por buscar sintetizar todo o conhecimento disponível sobre um determinado tema, a partir de resultados de estudos experimentais, como ensaios clínicos randomizados. Utiliza-se de técnicas rigorosas, seguindo o mnemônico PICOS (Patient, Intervention, Comparator, Outcomes e Study design) estruturado em um protocolo de pesquisa devidamente registrado, podendo ser ou não acompanhada de metanálise(4-5).

A scoping review surgiu como uma nova abordagem para revisar a literatura e tem-se destacado mundialmente na área de síntese de evidências em saúde, com notável crescimento na última década. Sua proposta está no mapeamento da literatura num determinado campo de interesse, sobretudo, quando revisões acerca do tema ainda não foram publicadas(2,6).

A sua sistematização está baseada no referencial do JBI (Joanna Briggs Institute) e utilizando o mneumônico PCC (population, concept, contexto), orientados em um protocolo de pesquisa que visa avaliar evidências emergentes; esclarecer conceitos ou definições; analisar como estão sendo conduzidas pesquisas em um determinado campo do conhecimento; identificar fatores relacionados a um determinado tema; subsidiar a realização de revisões sistemáticas; e identificar e analisar lacunas do conhecimento científico(2,6-7).

Diante da diversidade de métodos empregados para revisão de literatura, a scoping review diferencia-se dos demais métodos, pois auxilia na coleta de informações amplas e focadas, sem distinção entre tipos de estudos e métodos utilizados, ou seja, aponta a necessidade de inclusão de todos os estudos existentes para uma revisão diversificada(7).

É nessa conjuntura que se ressalta a possibilidade de reflexão acerca das contribuições da scoping review na produção científica em saúde e questiona-se: Qual a contribuição da scoping review na produção da área da saúde?

Assim, esta produção trata de um estudo reflexivo com o objetivo de refletir sobre as contribuições da scoping review na produção da área da saúde.

 

ASPECTOS CONCEITUAIS E HISTÓRICOS DA SCOPING REVIEW

A scoping review surge em um momento de expansão de revisões e da necessidade de diferentes abordagens a fim de contemplar os novos objetivos e mitigar algumas inquietações metodológicas, que, por vezes, conduziam os autores a intitulações erradas de suas revisões.

Desse modo, o JBI, instituição que abarca estudos de síntese de evidências científicas, atentou que, como as tradicionais revisões sistemáticas são elaboradas com o intuito de reunir informações sobre eficácia de intervenções, precisava-se delimitar uma metodologia que abrangesse objetivos mais amplos e que, anteriormente, eram respondidos a partir de pesquisas de campo, com delineamento qualitativo(8).

Nessa perspectiva, e por compreender que dados obtidos por estudos com robustez de delineamento metodológico são fontes confiáveis de evidências, surge a scoping review, também denominada de “mapping reviews'" ou “scoping studies” (ou revisão de escopo, no idioma português), que objetiva fornecer um panorama amplo de evidências científicas, independentemente do nível de qualidade(8). Isso é possível em virtude de esse método explorar diversos tipos de literatura, como artigos, dissertações, teses, livros, relatórios, entre outros.

Posto isso, as scoping reviews podem ser utilizadas para mapear conceitos-chave, definições, fatores relacionados e limites conceituais de determinado conceito, aspecto que poderá ser utilizado para justificar uma revisão sistemática, delineamento do perfil de evidências em uma área temática e identificar lacunas de conhecimento(9).

Os principais referenciais teóricos que subsidiam a elaboração da abordagem scoping review pela JBI são: 1) Arksey e O'Malley(10), 2) Levac, Colquhoun e O’Brien(11) e 3) Peters e colaboradores(12). O Quadro 1 descreve as etapas das propostas sugeridas pelos três referenciais metodológicos supracitados.

 

 

A proposta inicial foi delineada por Arksey e O'Malley, em 2005, e é reconhecida como a mais influente para guiar a construção da scoping review. Contudo, Levac, Colquhoun e O'Brien detalharam este método com o intuito de assegurar o rigor metodológico(9).

Já Peters e colaboradores fizeram adequações e, inclusive, sugeriram uma nomenclatura diferente para a abordagem, a systematic scope review – esta não foi adotada no guia da JBI, uma vez que se compreende que todas as sínteses de evidências demandam um processo sistemático(9).

No ano de 2018, outra atualização ocorreu na metodologia da scoping review, com a ampliação da Declaração de Itens de Relatório Preferenciais para Revisões Sistemáticas (PRISMA), para utilização desse tipo de revisão. Com isso, espera-se que as sínteses de evidências apresentadas nas revisões adquiram relevância para a tomada de decisões(13).

Percebe-se, assim, que a scoping review tem-se destacado mundialmente na área de síntese de evidências em saúde e tem sido perceptível o crescimento do uso dessa metodologia nos últimos anos(14). Ela é adequada a temáticas mais amplas por mostrar como as evidências foram produzidas. De uma forma geral, possui um rigor metodológico composto a partir de etapas bem delineadas e definidas.

Conforme as recomendações do JBI, a etapa inicial de qualquer scoping review é a realização de uma investigação preliminar na literatura acerca do tema de interesse, para identificar se há estudos semelhantes à temática que se quer desenvolver(15).

Após essa etapa, a equipe de pesquisa deverá construir um protocolo que servirá para nortear toda a scoping review. Esse protocolo deve conter: título, objetivos / questões da revisão, histórico, critérios de inclusão, estratégia de pesquisa, avaliação crítica, extração de dados, síntese de dados, resumo narrativo, referências e apêndices(9).

Essa etapa é imprescindível para a realização de uma boa scoping review. Além disso, o protocolo da pesquisa é o que irá unificar a linguagem entre todos os membros da equipe para coletar as informações necessárias de forma única. Seguida essa etapa, é importante que as subsequentes sejam desenvolvidas conforme a o referencial escolhido (Quadro 1).

Dentre as potencialidades da scoping review, destaca-se o fato de fornecer um método transparente para o mapeamento de temas específicos e mostrar as evidências disponíveis na literatura, como também torna possível identificar as lacunas na base de evidências, bem como resumir e divulgar os resultados da investigação(10,14)

Assim, é capaz de incorporar aos seus dados grande volume de publicações disponíveis tanto na literatura branca como na cinzenta, o que reflete o mapeamento a que se propõe a scoping review. No que se refere às fragilidades, percebe-se que ela não avalia a qualidade de evidências disponíveis, consequentemente, fornece uma narrativa ou relato descritivo de pesquisas disponíveis.

 

CONTRIBUIÇÕES DA SCOPING REVIEW NA PRODUÇÃO NA ÁREA DA SAÚDE

Sem a pretensão de realizar um estudo aprofundado de caracterização das revisões de escopo desenvolvidas pelos pesquisadores da área de saúde, em abril de 2021 foi realizada busca em cinco bases de dados, via Comunidade Acadêmica Federada do Portal de Periódicos da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), utilizando-se a estratégia “scoping study" OR “scoping review” OR “revisão de escopo” no campo de busca avançada das bases utilizadas: Embase, Pubmed, CINAHL, Scopus e Web of Science.

A partir dos filtros disponibilizados pelas próprias bases, realizou-se análise bibliométrica da produção de revisões de escopo na área da saúde. A busca resultou em 9.871 produções na Web of Science; 9.058 na Embase; 8.828 na Scopus; 3.976 na CINAHL; e 3.471 na Pubmed. No geral, identificou-se produção ascendente ao longo dos anos, o que denota que este tipo de pesquisa tem sido cada vez mais utilizado pelos pesquisadores (Figura 1).

 


Figura 1 - Quantitativo de revisões de escopo publicadas, por período, disponíveis nas bases de dados Embase, CINAHL, Scopus e Web of Science. 2021

 

Verificou-se que o quantitativo de produções teve aumento significativo em dois períodos (2005 e 2015), que se relacionam com publicações de importantes referenciais teóricos relativos à produção de scoping reviews: o artigo “Scoping studies: Towards a Methodological Framework”, de Hilary Arksey e Lisa O’Malley, em 2005(10), que apresentou um quadro teórico para subsídio à realização de revisões de escopo; e a publicação do manual do JBI, “The Joanna Briggs Institute Reviewers’ Manual 2015: Methodology for JBI Scoping Reviews”, em 2015(8), primeiro manual do Instituto que apresentou referencial teórico-metodológico para este tipo de investigação.

Denota-se, assim, que até 2004 a produção deste tipo de estudo era incipiente, o que se relaciona com a ausência de um referencial metodológico sistematizado nas produções deste período. Mesmo assim, nesse período já existiam produções com esse teor, que eram denominadas “scoping study” ou “mapping review"(15), o que revelava a necessidade um referencial qualificado para estudos que objetivavam mapear conhecimentos e conceitos de uma área temática, diferentemente das já conhecidas e bem fundamentadas revisões sistemáticas.

A publicação desses referenciais foi importante marco de contribuição para o aumento e qualificação das produções de revisões de escopo na área da saúde – entre o período anterior a 2005 e os anos de 2005 a 2014, houve um incremento médio de 3000% no total de produções publicadas nas bases; e, após a publicação do Manual do JBI, em 2015, até os dias atuais, já houve um aumento médio de 1300% nas publicações.

Sabe-se que o objetivo primordial do JBI é favorecer a tomada de decisões baseadas em evidências no âmbito da saúde, seja produzindo e disseminando evidências de pesquisa, seja através do desenvolvimento e publicização de softwares e demais recursos metodológicos para a realização de pesquisas; seja através do treinamento de pesquisadores para o reconhecimento e bom uso de tais recursos(12).

Especificamente no tocante à scoping review, o JBI tanto apresenta a finalidade deste tipo de revisão, quanto norteia o passo a passo para sua realização, desde a construção do protocolo de pesquisa para coleta de dados até a escrita do relatório de achados do estudo(16).

Desse modo, elucida-se uma imperativa contribuição destes referenciais para as revisões de escopo da área da saúde, no sentido de qualificar a fundamentação teórica dos pesquisadores a partir da consolidação de revisão de literatura pautada em robusto referencial teórico-metodológico.

Anteriormente à publicação do Manual do JBI de 2015, percebia-se uma lacuna de referencial reconhecido internacionalmente para basilar o desenvolvimento de revisões com o objetivo de mapear conceitos e áreas temáticas. Decorrente disso e de outras variáveis de importante reflexão pelos pesquisadores (inclusive a correta nomenclatura dos tipos de pesquisa e a supervalorização errônea de determinados tipos de estudo em busca de publicação em revistas de renome), era comum a confusão metodológica entre revisões sistemáticas e tais tipos de revisão de literatura com escopos mais abrangentes de fundamentação teórica.

Apesar de ainda existirem tais equívocos, eles têm sido cada vez mais combatidos e incomuns, sobretudo, pelo intenso trabalho do JBI em clarificar os objetivos distintos dessas revisões – scoping review e revisão sistemática –, deixando claro que ambas as revisões são relevantes, cada qual com objetivos específicos para subsídio e contribuição à área da saúde(8,12).

Em síntese, os objetivos da scoping review são: mapear os conceitos que sustentam um campo de pesquisa; esclarecer definições de trabalho; explorar a amplitude ou extensão da literatura e informar pesquisas futuras sobre uma temática em específico; identificar os tipos de evidências disponíveis em um determinado campo; identificar e analisar lacunas de conhecimento; identificar a necessidade e viabilidade de realizar revisão sistemática, esclarecer conceitos e definições-chave na literatura; examinar como a pesquisa é conduzida em um determinado tópico ou campo; e identificar características ou fatores-chave relacionados a um conceito(12).

Sabe-se que o correto alinhamento entre o objetivo do estudo que se pretende desenvolver e o referencial metodológico escolhido é etapa inicial e primordial no desenvolvimento de uma pesquisa científica de excelência(17). Não raras vezes, identificam-se equívocos metodológicos em estudos, inclusive já publicados, sobretudo, no tocante à descrição do que se trata uma revisão sistemática, quando o objetivo proposto pelos autores e a elaboração/desenvolvimento do estudo diz respeito a outros tipos de revisões(18).

É válido destacar que, para além de contribuir com a elucidação sobre o correto objetivo da scoping review, a orientação quanto à construção e cadastro do protocolo de pesquisa possibilita aos autores descrever claramente a lógica por trás de sua scoping review, o que, por sua vez, permite aos leitores destes estudos compreender a importância do tema em foco e a sua execução12).

Acrescente-se, ainda, que o direcionamento do JBI quanto à escrita científica dos achados da scoping review aumenta a transparência e a confiabilidade acerca do estudo desenvolvido e permite a replicação do método por outros autores em distintos cenários(19).

Assim, advoga-se que o cumprimento das orientações do JBI para realização da scoping review subsidia a integração de todos os demais elementos da investigação científica, possibilita a organicidade e coerência interna ao processo de pesquisa. Além disso, minimiza o desperdício de recursos de autores, revisores e leitores na execução, publicação e consulta de estudos com fragilidades metodológicas, bem como favorece a prática baseada em evidências como instrumento para a tomada de decisões clínicas, programáticas e políticas(14).

No que se refere à localização geográfica das produções de revisões de escopo da área da saúde, os dados bibliométricos da CINAHL, Scopus e Web of Science revelam que Europa e Estados Unidos se destacam inquestionavelmente na publicação deste tipo de pesquisa, mas pesquisadores de países de todos os continentes também têm produzido revisões de escopo. Segundo dados da Scopus, o Brasil ocupa a 9ª posição na lista de países com maior produção de scoping review na área da saúde; segundo a Web of Science, o país fica em 12° lugar.

Quanto às áreas temáticas das scoping reviews, o que se denota é uma intensa diversificação de temas (Quadro 2), fato relacionado à proposta deste tipo de pesquisa que, com abordagem exploratória, busca mapear sistematicamente a literatura disponível em um tópico, identificando conceitos-chave, teorias, fontes de evidências e lacunas(20).

 

 

Interessante destacar que, apesar de recente, “Coronavirus disease” apareceu como a quinta temática mais abordada nas revisões de escopo identificadas na Embase, o que reforça a abordagem exploratória dessas pesquisas, relevantes para a síntese de conhecimento que tem sido produzido de forma rápida, com inclusão de diferentes tipologias de pesquisa(12).

As temáticas em destaque na base de dados CINAHL, por sua vez, revelam outra importante contribuição das scoping reviews: realização de estudos com temáticas de suporte à análise de políticas e programas de saúde, com mapeamento de documentos e marcos legais que são imperativos a tais objetos de estudo(8,12).

 

AVANÇOS E PERSPECTIVAS FUTURAS PARA A SCOPING REVIEW

Instituições consagradas no tocante à prática baseada em evidências, tais como a Cochrane e JBI, vêm trazendo as propostas de trabalho com revisões de escopo, favorecendo a construção do conhecimento científico assentado em bases sólidas e sistemáticas(16), de forma que estas se apresentam como uma opção cada vez mais utilizada para sintetizar evidências na área da saúde11).

Dentre alguns avanços e recomendações para aprimoramento deste tipo de pesquisa, tem-se a recomendação do cadastro de protocolos de scoping review em páginas repositórias específicas para este fim. Esse aspecto favorece a verificação da autenticidade da pesquisa, sua replicabilidade e maior transparência, detalhando o rigor metodológico empregado(12).

Repositórios abertos para cadastro de protocolos, tais como OSF, Fighshare, são atualmente opções específicas das instituições e há, ainda, a possibilidade de publicação destes protocolos em formato de artigo científico, o que favorece a possibilidade de replicação do estudo e aumento da transparência em todo o processo a ser desenvolvido na pesquisa, estratégia amplamente recomendada frente à necessidade de defesa de uma ciência aberta(12,22).

Ainda, como avanços na execução das scoping reviews, tem-se a possibilidade de uso de softwares para o gerenciamento, organização dos bancos de dados e cegamento dos revisores independentes que estejam desenvolvendo revisões de escopo, a exemplo, os já consagrados softwares das instituições, como JBI SUMARI e o Review Manager (RevMan) da Cochrane, e outros como Rayyan, que tem acesso gratuito e possibilita que pesquisadores não vinculados aos institutos possam utilizá-lo em suas pesquisas(23).

A necessidade de maior robustez nos relatos oriundos das scoping reviews culminou na publicação do PRISMA_SCR, que teve sua última atualização em 2018, e apresenta-se como diretriz formada pelo conjunto mínimo de 20 itens (e dois opcionais), necessários a serem apresentados no relato de uma scoping review(13).

Há ainda debate relativo à não obrigatoriedade de avaliação da qualidade metodológica das fontes de evidência que são inseridas nas scoping reviews, pois questiona-se se tal característica seria um elemento dificultador da aplicação destas no campo das políticas e práticas em saúde. No entanto, não é claramente consolidado que a ausência da avaliação de qualidade metodológica tenha impactos no aceite e importância dos resultados de uma scoping review(11).

Acredita-se que com a ampliação do uso de scoping review na área da saúde poderão surgir novos delineamentos e aprimoramentos que, compartilhados pela comunidade científica, através do estímulo a uma ciência aberta, poderão gerar novas nuances, atualizações e ferramentas, contribuindo para o aumento da robustez deste método de revisão(21).

 

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A scoping review é um tipo de método que atende às demandas de sintetizar evidências de questões de pesquisas amplas, de modo sistemático, com transparência e a confiabilidade dos seus dados, o que possibilita a replicação do método por outros autores em distintos cenários.

A sua utilização na área da saúde segue uma perspectiva crescente, sobretudo após a publicação de importantes referenciais teóricos relacionados à produção desse tipo de revisão, nos anos de 2005 e 2015.

Apesar de a scoping review não avaliar a qualidade de evidências disponíveis, e assim limitar-se a fornecer uma narrativa ou relato descritivo de pesquisas disponíveis, acredita-se que esse método pode contribuir com a tomada de decisões clínicas (ao apontar a necessidade e viabilidade da realização de revisões sistemáticas), programáticas e políticas. Ademais, conjectura-se que a ampliação do seu uso na área da saúde subsidiará atualizações e o aprimoramento desse método.

 

REFERÊNCIAS

1. Nazareth CCG, Kalil MTAC, Kalil MV. Revisão de literatura e revisão sistemática: uma análise objetiva. Rev. flum. odontol. 2021; 55:39-47. DOI: https://doi.org/10.22409/ijosd. v0i55.43132

2. Cordeiro L, Soares CB. Revisão de escopo: potencialidades para a síntese de metodologias utilizadas em pesquisa primária qualitativa. BIS, Bol. Inst. Saúde (Impr.). 2019; 20(2):37-43.

3. Silva MJS; Lima FLT. Contribuições dos Métodos de Revisão para o Desenvolvimento do Conhecimento Científico em Oncologia. Rev. Bras. Cancerol. (Online). 2019; 65(4):e-00860. DOI: https://doi.org/10.32635/2176-9745.RBC.2019v65n4.860

4. Casarin ST, Porto AR, Gabatz RIB, Bonow CA, Ribeiro JP, Mota MS. Tipos de revisão de literatura: considerações das editoras do Journal of Nursing and Health. J. nurs. health. 2020; 10(n.esp.):e20104031. DOI: https://doi.org/10.15210/jonah.v10i5.19924

5. Barbosa FT, Lira AB, Oliveira NOB, Santos LL, Santos IO, Barbosa LT et al. Tutorial para execução de revisões sistemáticas e metanálises com estudos de intervenção em anestesia. Rev. Bras. Anestesiol. 2019; 69(3):299-306. DOI: https://doi.org/10.1016/j.bjan.2018.11.007

6. Pham MT, Rajić A, Greig JD, Sargeant JM, Papadopoulos A, McEwen SA. A scoping review of scoping reviews: advancing the approach and enhancing the consistency. Res. Syn. Meth. 2014; 5(4):371-85. DOI: https://doi.org/10.1002/jrsm.1123

7. Sucharew H, Maurizio Macaluso. Methods for Research Evidence Synthesis: The Scoping Review Approach. J. Hosp. Med. 2019; 7:416-8. DOI: https://doi.org/10.12788/jhm.3248

8. The Joanna Briggs Institute. The Joanna Briggs Institute Reviewers’ Manual 2015: Methodology for JBI Scoping Reviews. South Australia (AU): The Joanna Briggs Institute; 2015.

9. Aromataris E, Munn Z, editors. JBI Manual for Evidence Synthesis [Internet]. JBI; 2020 [cited 2021 Maio 8]. Available from: https://synthesismanual.jbi.global. DOI: https://doi.org/10.46658/JBIMES-20-01

10. Arksey H, O’Malley L. Scoping studies: Towards a Methodological Framework. Int. j. soc. res. methodol. 2005; 8(1):19-32. DOI: https://doi.org/10.1080/1364557032000119616

11. Levac D, Colquhoun H, O’Brien KK. Scoping studies: advancing the methodology. Implement. sci. 2010; 5(69):1-9.

12. Peters MDJ, Godfrey C, Kahlil H, Mcinerney P, Baldini SC, Parker, D. Guidance for conducting systematic scoping reviews’. Int. j. evid.-based healthc. 2015; 13(3):141-6. DOI: https://doi.org/10.1097/XEB.0000000000000050

13. Tricco AC, Lillie E, Zarin W, O’Brien KK, Colquhoun H, Levac D, Moher D, Peters MD, Horsley T, Weeks L, Hempel S et al. PRISMA extension for scoping reviews (PRISMA-ScR): checklist and explanation. Ann. intern. med. 2018; 169:467-73. DOI: https://doi.org/10.7326/M18-0850

14. Cordeiro L, Soares CB. Revisão de escopo: potencialidades para a síntese de metodologias utilizadas em pesquisa primária qualitativa. BIS, Bol. Inst. Saúde (Impr.). 2019; 20(2):37-43.

15. Anderson S, Allen P, Peckham S, Goodwin N. Asking the right questions: scoping studies in the commissioning of research on the organisation and delivery of health services. Health res. policy syst. 2008; 6(7):12. DOI: https://doi.org/10.1186/1478-4505-6-7

16. Barbosa Filho VC, Tricco A. Scoping review: a relevant methodological approach for knowledge synthesis in Brazil ’s health literature. Rev. bras. ativ. fís. saúde. 2019; 24:e0082. DOI: https://doi.org/10.12820/rbafs.24e0082

18. Pope C, Mays N. Pesquisa Qualitativa na Atenção à Saúde. Porto Alegre: Artmed; 2009.

19. Hermont AP, Zina LG, Silva, KD, Silva JM, Martins-Júnior PA. Revisões integrativas: conceitos, planejamento e execução. Arq. Bras. Odontol. (Impr.) 2021; 57:3-7. DOI: https://doi.org/10.7308/aodontol/2021.57.e01

20. Tricco AC, Lillie E, Zarin W, O’Brien K, Colquhoun H, Kastner M et al. A scoping review on the conduct and reporting of scoping reviews. BMC med. res. methodol. (Online). 2016; 16:1-10. DOI: https://doi.org/10.1186/s12874-016-0116-4

21. Grimshaw J. A Guide to Knowledge Synthesis [Internet]. Canadian Institutes of Health Research; 2010 [cited 13 Maio 2021]. Available from: https://cihr-irsc.gc.ca/e/41382.html.

22. Silva FCC, Silveira L. O ecossistema da Ciência Aberta. Transinformação. 2019; 31(e190001):1-13. DOI: https://doi. org/10.1590/2318-0889201931e190001

23. Ouzzani M, Hammady H., Fedorowicz Z, Elmagarmid A. Rayyan - a web and mobile app for systematic reviews. Syst. rev. 2016; 5(210):1-10. DOI: https://doi.org/10.1186/s13643-016-0384-4

 

Copyright 2024 Revista Enfermagem Digital Cuidado e Promoção da Saúde

GN1

Política de Cookies