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Face I - Year2018 - Volume33 - (Suppl.1)

http://www.dx.doi.org/10.5935/2177-1235.2018RBCP0066

RESUMO

INTRODUÇÃO: A paralisia facial é uma afecção complexa, em que a morbidade afeta o paciente tanto clínica, com prejuízo estético e funcional, como psicologicamente. Tais alterações, quando presentes, afetam de forma profunda o cotidiano do paciente, bem com as relações interpessoais. OBJETIVO: Relatar um caso de tratamento cirúrgico de paralisia facial com ponte de nervo masseter e cantoplastia lateral, bem como o resultado clínico pós-operatório, discutindo com outras possibilidades terapêuticas cirúrgicas. MÉTODOS: Revisão de prontuário, descrição cirúrgica e registros fotográficos de um caso de paralisia facial, tratado cirurgicamente com retalho muscular de masseter ipsilateral e revisão na literatura médica de opções cirúrgicas para tratamento da patologia. Paciente feminina, parda, 36 anos, com paralisia de nervo facial a esquerda secundário a ressecção de tumor ponto cerebelar, associado a prejuízo de fechamento ocular e mímica facial. Resultados: Para correção da lagoftalmia, optou-se pela realização de uma cantoplastia lateral. No mesmo tempo cirúrgico, com vistas à correção da mímica facial, a porção distal do coto do nervo facial lesado foi reinervada com o nervo massetérico ipsilateral, ramo do nervo trigêmeo. CONCLUSÃO: A paralisia facial é uma afecção complexa, que necessita de um acompanhamento multidisciplinar entre cirurgiões, clínicos, psiquiatras, fisioterapêuticas, psicólogos e enfermeiros e tratamento individualizado, em que o paciente deve participar efetivamente das decisões em conjunto com a equipe médica, visando maior participação nas decisões e maior satisfação do paciente com o resultado final.

Palavras-chave: Paralisia Facial; Reabilitação; Microcirurgia.


INTRODUÇÃO

A paralisia facial é uma afecção complexa, em que a morbidade afeta o paciente tanto clínica, com prejuízo estético e funcional, como psicologicamente1. O nervo facial, porção extratemporal do sétimo par craniano, está associado a músculos responsáveis pela proteção ocular, manutenção do fluxo nasal, fala, continência oral, além da expressão facial. Tais alterações, quando presentes, afetam de forma profunda o cotidiano do paciente, bem com as relações interpessoais.

Existem diversas causas para a paralisia facial; dentre as causas adquiridas, as traumáticas estão entre as mais frequentes, perdendo apenas para os casos ditos idiopáticos2. Nas causas congênitas, a principal associação é secundaria ao parto, com resolução dos sintomas no primeiro mês de vida2. Nos dias atuais, há diferentes formas de abordagens cirúrgicas para recuperação de função do nervo facial, variando de reparo do próprio nervo lesado a transplante muscular funcional, sendo a melhor abordagem individualizada para cada caso.


OBJETIVO

Relatar um caso de tratamento cirúrgico de paralisia facial com ponte de nervo masseter e cantoplastia lateral, bem como o resultado clínico pós-operatório, discutindo com outras possibilidades terapêuticas cirúrgicas.


MÉTODOS

Revisão de prontuário, descrição cirúrgica e registros fotográficos de um caso de paralisia facial, tratado cirurgicamente com retalho muscular de masseter ipsilateral e revisão na literatura médica de opções cirúrgicas para tratamento da afecção.


RESULTADOS

Paciente feminina, parda, 36 anos, com paralisia de nervo facial à esquerda secundário à ressecção de tumor ponto cerebelar, associado a prejuízo de fechamento ocular e mímica facial (Figuras 1 e 2). Paciente realizou estudo de condução nervosa que não demonstrou potencial evocado motor de resposta à estimulação do nervo facial esquerdo e demonstrou latência e amplitude de potencial evocado motor do nervo facial direito dentro da normalidade.


Figura 1. Pré-operatório 1.


Figura 2. Pré-operatório com contração voluntária.



Para correção da lagoftalmia, optou-se pela realização de uma cantoplastia lateral. No mesmo tempo cirúrgico, com vistas à correção da mímica facial, a porção distal do coto do nervo facial lesado foi reinervada com o nervo massetérico ipsilateral, ramo do nervo trigêmeo. Após o procedimento cirúrgico, a paciente foi encaminhada à fisioterapia motora para treinamento neuromuscular e, com seis meses de pós-operatório, já apresentava melhora do quadro clínico (Figuras 3 e 4).


Figura 3. Pós-operatório.


Figura 4. Pós-operatório com contração voluntária.



DISCUSSÃO

A paralisia facial apresenta diversas possibilidades terapêuticas cirúrgicas e não cirúrgicas. A preservação da integridade da córnea é uma das principais preocupações imediatas desses pacientes, seja com uso de lubrificantes e pomadas oculares até tarsorrafia quando necessário1. A cantoplastia lateral é bem indicada em situações de lagoftálmico importante, com a paciente em questão, ou falha de outras terapias, alcançando o adequado proteção ocular com o reposicionamento da pálpebras superior e inferior associado a uma tarsorrafia lateral.

Em situações de menor comprometimento oftalmológico, em que a distância da pálpebra superior para a inferior seja inferior a 5mm, implantação de uma pequena placa de ouro 24 quilates de 0,8 a 1,8g, na pálpebra superior, sobre a placa tarsal para adequada cobertura da córnea; no entanto, essa técnica apresenta elevado índice de extrusão da placa após cinco anos do procedimento4.

Para reanimação dinâmica da face, a determinação de uma lesão completa ou parcial, a avaliação da viabilidade do nervo facial e o tempo de paralisia da musculatura são fundamentais na decisão terapêutica. Pacientes que apresentam tempo de paralisia inferior há 12 meses, costumam apresentar musculatura viável, sendo útil a avaliação da atividade do coto proximal do nervo facial lesado. Quando esse período supera os 24 meses, torna-se irreversível a atrofia muscular, sendo a substituição da musculatura necessária.

Nas situações de viabilidade do coto proximal e distal do nervo facial em trauma recente, a exploração cirúrgica nas primeiras 72h de pós-operatório torna o reparo primário do nervo lesado uma possibilidade1. Contudo, quando não há possibilidade de reparo do coto proximal, mas existe viabilidade do coto distal, em traumas recentes, uma ponte entre este e um outro nervo craniano ipsilateral, como hipoglosso ou o masseter, é uma opção com boa resposta quanto ao tônus muscular. Essa foi a opção terapêutica elegida entre a equipe cirúrgica e a paciente, visando a simetria facial em repouso e, com auxílio de terapia motora, a manutenção parcial da mímica e do sorriso da paciente.


CONCLUSÃO

A paralisia facial é uma afecção complexa, que necessita de um acompanhamento multidisciplinar entre cirurgiões, clínicos, psiquiatras, fisioterapêuticas, psicólogos e enfermeiros e tratamento individualizado, em que o paciente deve participar efetivamente das decisões em conjunto com a equipe médica. Os objetivos do tratamento cirúrgico visam proteção ocular, simetria facial em repouso e movimento muscular independente e espontânea. Entretanto, a discussão sobre expectativas do paciente e as reais possibilidades das terapias a disposição, bem como a eventualidade de um segundo procedimento, deve ser estimulada, visando maior participação da paciente nas decisões e maior satisfação da mesma com o resultado final.


REFERÊNCIAS

1. Fattah A, Borschel GH, Manktelow RT, Bezuhly M, Zuker RM. Facial palsy and reconstruction. Plast Reconstr Surg. 2012;129(2):340e-52e. DOI: http://dx.doi.org/10.1097/PRS.0b013e31823aedd9

2. Pinna BR, Testa JRG, Fukuda Y. Estudo de Paralisias Faciais Traumáticas: Análise de casos Clínicos e Cirúrgicos. Rev Bras Otorrinolaringol. 2004;70(4):479-82. DOI: http://dx.doi.org/10.1590/S0034-72992004000400007

3. Duval M, Daniel SJ. Facial nerve palsy in neonates secondary to forceps use. Arch Otolaryngol Head Neck Surg. 2009;135(7):634-6. PMID: 19620581 DOI: http://dx.doi.org/10.1001/archoto.2009.69

4. Rofagha S, Seiff SR. Long-term results for the use of gold eyelid load weights in the management of facial paralysis. Plast Reconstr Surg. 2010;125(1):142-9. PMID: 20048607 DOI: http://dx.doi.org/10.1097/PRS.0b013e3181c2a4f2










Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre/Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre – UFCSPA, Porto Alegre, RS, Brasil

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Flávio Maciel de Freitas Neto
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